O que é fissura?
Fissuras são aberturas finas, geralmente superficiais e alongadas, que surgem em concretos, argamassas e alvenarias. Muitas são inerentes ao comportamento dos materiais e às variações de temperatura e umidade.
Características típicas:
– Linha fina, contínua ou ramificada
- Pequena abertura (visível, mas estreita)
- Normalmente superficial (não atravessa o elemento)
- Pode ser estática ou apresentar pouca evolução com o tempo
Causas frequentes:
– Retração de cura do concreto e da argamassa
- Variações térmicas (dilatação/contração sem juntas adequadas)
- Movimentos higroscópicos (ganho/perda de umidade)
- Recalques leves e uniformes do solo
- Erros de detalhamento construtivo (cantos reentrantes sem alívio, ausência de vergas/contravergas em alvenarias de vedação)
- Cura inadequada, traço pobre, aplicação em clima muito quente/ventilado
Quando preocupar:
– Abertura aumenta perceptivelmente ao longo de dias/semanas
- Há infiltração, eflorescência, mofo ou destacamento de revestimentos
- Fissuras paralelas a barras de aço ou com sinais de ferrugem no concreto (possível corrosão de armadura)
- A fissura reaparece logo após “pintura e massa”
O que é rachadura?
Rachaduras são aberturas mais largas e, muitas vezes, profundas. Em geral, apontam para problemas estruturais ou de fundação, execução/projeto, sobrecarga, degradação ou combinação desses fatores.
Características típicas:
– Abertura perceptivelmente maior
- Profundidade relevante; pode atravessar o elemento
- Trajeto que acompanha regiões de esforço (ex.: diagonais em paredes, encontro de pilares/vigas)
- Pode vir acompanhada de deslocamentos, degraus ou esmagamentos
Causas frequentes:
– Recalque diferencial de fundações (solos expansivos, rebaixamento do lençol, escavações vizinhas)
- Sobrecargas além do projeto (depósitos, fileiras de livros, caixas d’água, alterações de uso)
- Erros de projeto/detalhamento ou falhas graves de execução
- Corrosão de armaduras e perda de seção resistente
- Ações acidentais: impactos, vibrações intensas, sismos, incêndio
- Remoção de paredes/elementos sem reforço adequado
Sinais de alerta:
– Rachaduras diagonais em 45° em paredes próximas a vãos
- “Trinca em escada” em junta de blocos/vedação
- Portas e janelas desalinhando/ emperrando de forma súbita
- Piso ou laje com flecha acentuada; sensação de vibração atípica
- Estalos, estufamentos ou desprendimentos de revestimentos
Diferenças-chave entre fissuras e rachaduras
– Largura e profundidade:
– Fissura: fina e geralmente superficial
- Rachadura: larga e frequentemente profunda/atravessante
– Gravidade:
– Fissura: muitas vezes estética/funcional leve
- Rachadura: pode indicar problema estrutural ou de fundação
– Causa típica:
– Fissura: movimentações normais de materiais, variações térmicas/higroscópicas
- Rachadura: falhas de projeto/execução, sobrecarga, recalque diferencial, corrosão
– Reparação:
– Fissura: selantes flexíveis, correções de revestimento, juntas e controle de umidade
- Rachadura: reforços estruturais, injeções, costura, recuperação de fundação e tratamento da causa
Como medir e monitorar a abertura
Para tomar decisão com segurança, medir é essencial. A classificação por abertura é uma referência prática (não normativa) usada em campo:
– Microfissura: < 0,10 mm
- Fissura fina: 0,10 a 0,30 mm
- Fissura média: 0,30 a 0,60 mm
- Fissura larga: > 0,60 mm
Ferramentas e dicas:
– Régua fissurômetro (comparador de fendas) para leitura em mm
- Fotos sempre com escala (moeda/régua) e data
- Selos de gesso ou marcadores de papel/vinil com data para acompanhar evolução
- Monitoramento periódico (ex.: semanal no primeiro mês; quinzenal/mensal depois)
- Em casos críticos, instalar medidores dedicados (tell-tales, LVDTs) e coletar leituras
O que fazer ao encontrar fissuras ou rachaduras
1. Pare de “tampar” sem diagnóstico: massa e pintura sem tratar a causa fazem o problema voltar.
- Identifique sinais associados: umidade, ferrugem, deslocamentos, portas emperrando.
- Reduza riscos: isole áreas com deslocamentos ou queda de revestimentos; evite cargas extras.
- Chame um engenheiro civil/estrutural: peça inspeção com ART e laudo técnico.
5. Se necessário, realize ensaios e prospecções:
– Esclerometria, ultrassom, pacometria
- Termografia/medição de umidade, endoscopia, extração de testemunhos
- Sondagens/ensaios geotécnicos para fundações
- Receba o plano de tratamento: priorize ações que atacam a causa, não apenas o acabamento.
- Monitore após o reparo: confirme estabilização antes de concluir pintura e acabamentos.
Soluções típicas (sempre após diagnóstico)
Fissuras não estruturais:
– Selantes flexíveis e pintura elastomérica em fachadas
- Reexecução de argamassa/rejuntes e detalhamento de juntas
- Correção de pontos de infiltração, calhas, rufos e impermeabilizações
- Em alvenaria de vedação: vergas e contravergas, substituição/amarração de trechos soltos
Fissuras com função estrutural limitada:
– Injeção de resina epóxi (estanqueidade/aderência) quando indicado
- Costura com grampos/barras e grauteamento
- Reforços localizados com chapas/GRFP/CRFP (fibras) conforme projeto
Rachaduras/quadros estruturais:
– Reforço de vigas/lajes/pilares (aumento de seção, lamelas de fibra de carbono, chapas metálicas, protensão externa)
- Recuperação de fundações (micropilas/estacas helicoidais, maciços de recalque, underpinning)
- Tratamento de corrosão de armaduras (limpeza, passivação, recomposição com argamassa polimérica)
- Correção de sobrecargas/uso indevido e readequação do sistema
Prevenção: como evitar que volte
- Projeto bem detalhado (armaduras, juntas, acabamentos, vergas/contravergas)
- Materiais e execução com controle tecnológico e cura adequada
- Drenagem e impermeabilização eficientes (telhados, marquises, floreiras, áreas molhadas)
- Manutenção preventiva conforme NBR 5674 e Manual do Proprietário (NBR 14037)
- Evitar reformas que removem elementos sem análise estrutural
- Gestão de cargas: aquários, arquivos, depósitos sobre lajes leves pedem verificação prévia
Quando chamar engenharia diagnóstica e perícia
Engenharia diagnóstica é a especialidade que identifica causas, quantifica riscos e define soluções. Indicado quando:
– Há evolução da abertura, deslocamentos ou risco aparente
- Existem infiltrações persistentes ou manifestações múltiplas (mofo, eflorescência, descolamento)
- O imóvel passará por reforma estrutural/mudança de uso
- Há necessidade de laudo para seguro, garantia, disputa, locação ou venda
Como funciona o serviço:
– Anamnese e análise de documentos (projetos, memórias, fotos)
- Inspeção predial conforme NBR 16747
- Hipóteses diagnósticas e plano de ensaios (se necessário)
- Modelagem e verificação de segurança/serviço
- Laudo técnico com ART, classificação de risco e plano de intervenção
- Acompanhamento e validação pós-reparo
Perguntas frequentes
Pintar resolve fissura?
Não. Pintura só mascara. Sem tratar a causa, a fissura reaparece.
- Como saber se é fissura ou rachadura?
Meça a abertura, avalie profundidade, observe evolução e contexto (cargas, infiltração, recalque). Na dúvida, chame um engenheiro. - Rachadura sempre é estrutural?
Nem sempre, mas frequentemente indica problema relevante (fundação, armadura, sobrecarga). Precisa de diagnóstico técnico. - Posso injetar epóxi em qualquer fissura?
Não. Epóxi é rígido; em fissuras por movimentação térmica/higroscópica pode trincar novamente. O tipo de reparo depende da causa. - Existem limites “seguros” de abertura?
Há critérios técnicos para controle de abertura em projeto (ex.: NBR 6118 para concreto), mas a avaliação em obra deve considerar causa, evolução, ambiente e função do elemento.