NOSSOS BLOG

Dicas e Artigos para você se manter atualizados

Orçamento de Projeto Estrutural guia completo

1) O que é e por que um orçamento técnico é decisivo

  • Define o escopo técnico e os entregáveis (plantas, memoriais, modelos BIM, listas de materiais, etc.).
  • Relaciona esforço e complexidade do cálculo e detalhamento.
  • Explicita premissas, exclusões e reponsabilidades (reduzindo aditivos inesperados).
  • Ajusta expectativas de prazo e revisões.
  • Cria base de comparação entre alternativas de solução estrutural.
  • Protege a margem por meio de BDI, contingência e gestão de riscos.

2) Escopo típico do projeto estrutural

– Estudos iniciais e concepção

  • Análise de diretrizes arquitetônicas
  • Viabilidade de sistemas estruturais (concreto armado, protendido, aço, madeira, mistas)
  • Estratégias de modulação, vãos, cargas e estabilidade global
  • Projeto básico
  • Modelo analítico preliminar
  • Pré-dimensionamento de elementos
  • Memória de cálculo resumida
  • Diretrizes de compatibilização
  • Projeto executivo
  • Modelo analítico definitivo
  • Memória de cálculo completa
  • Pranchas de formas e armaduras (concreto) ou detalhamento de ligações e chapas (aço) ou arranjos (madeira)
  • Listas de materiais e quantitativos
  • Cadernos de detalhes construtivos
  • Compatibilização e revisões
  • Ritos de coordenação com arquitetura, instalações e fundações
  • Revisões por alterações de projeto base
  • Apoio à obra
  • RFI e consultas técnicas
  • Visitas técnicas e inspeções pontuais
  • As built, quando contratado
  • Engenharia Diagnóstica (quando aplicável)
  • Inspeção e ensaios (pacometria, esclerometria, ultrassom, extração de testemunhos, etc.)
  • Laudo técnico e proposta de reforço
  • Projeto de reforço (materiais compósitos, chapas de aço, seção aumentada, protensão externa, etc.)

3) Fatores que mais influenciam o custo

  • Tipo de estrutura: concreto armado/protendido, aço, madeira, alvenaria estrutural, mistas
  • Complexidade geométrica: vãos, rampas, balanços, curvas, níveis, irregularidades
  • Categoria da edificação: residencial, comercial, industrial, hospitalar, pontes e obras especiais
  • Normas e critérios: NBR 6118, 6120, 6123, 8681, 8800, 7190, 15575 (desempenho), 14931 (execução), entre outras
  • Qualidade das informações de entrada: sondagem, arquitetura consolidada, cargas especiais
  • Prazos e janelas de entrega: urgência onera horas extras e priorização
  • Revisões esperadas e compatibilização interdisciplinar (BIM)
  • Nível de detalhamento do executivo e entregáveis BIM (LOD/LOI)
  • Riscos do empreendimento: terreno, uso, interferências, premissas de obra

4) Metodologias de estimativa de custo

Combine métodos de acordo com a maturidade do escopo:

– Estimativa análoga (benchmark)

  • Baseada em projetos similares: custo por m² de A.T.E., por pavimento, por categoria
  • Rápida, exige banco de dados confiável
  • Estimativa paramétrica
  • Parâmetros como m², m³ de concreto, t de aço, índice de irregularidade/complexidade
  • Útil no início para prever esforço relativo; refine com fatores de ajuste
  • Bottom-up (composição)
  • Detalha atividades, papéis, horas, insumos, revisões e monta o custo total
  • Mais precisa; requer WBS/EAP clara
  • Three-point/PERT para esforço
  • Estime horas otimista, mais provável e pessimista para atividades críticas
  • Reduz viés e embute variabilidade
  • Classes de estimativa (inspirado na AACE)
  • Classe 5 (conceitual, -50% a +100%), Classe 3 (básico, -20% a +30%), Classe 1 (executivo, -10% a +15%)
  • Atribua faixa de incerteza na proposta

5) Estrutura Analítica do Projeto

  1. Iniciação
  2. Kick-off, leitura de contrato, checklist de dados
  3. Coleta e análise de informações
  4. Sondagens, arquitetura, cargas especiais, normas do cliente
  5. Concepção estrutural
  6. Alternativas e comparativos
  7. Modelo analítico e pré-dimensionamento
  8. Montagem do modelo, combinações de ações, estabilidade
  9. Projeto básico
  10. Memória resumida, diretrizes
  11. Projeto executivo
  12. Detalhamento, pranchas, listas, memoriais
  13. Compatibilização
  14. Ritos BIM/reuniões, ajustes com MEP e arquitetura
  15. Qualidade e revisão
  16. Checagens independentes, carimbos, controle de versões
  17. Entrega e apoio à obra
  18. Entrega final, RFIs, visitas, as built (se houver)
  19. Encerramento
  • Lições aprendidas, atualização do banco de dados

6) Composição de preço: estrutura e fórmulas

Componentes usuais:

– Custos diretos (horas técnicas)

  • Engenheiro Sênior, Pleno, Júnior
  • Modelador BIM, Cadista/Detalhista
  • Coordenação/gerência técnica
  • Insumos e despesas
  • Licenças de software, servidores, plotagens
  • Deslocamentos/diárias
  • Reuniões, impressões, nuvem
  • Custos indiretos
  • Administração, contabilidade, marketing, aluguel, equipamentos
  • Impostos e encargos
  • ISS (alíquota municipal), tributos sobre faturamento (regime tributário)
  • BDI e contingência
  • Benefícios e Despesas Indiretas + Margem de lucro
  • Contingência para riscos técnicos e de escopo

7) Exemplo numérico completo

Cenário: edifício residencial de 10 pavimentos + 2 subsolos, 8.000 m² A.T.E., concreto armado, prazo padrão, compatibilização BIM quinzenal.

  • Estimativa de esforço
    • Eng. Sênior: 50 h (concepção, revisão crítica)
    • Eng. Pleno: 160 h (modelo analítico, dimensionamento)
    • Eng. Júnior: 80 h (apoio em verificações)
    • Modelador BIM: 180 h (formas/armaduras, LOD definido)
    • Cadista/Detalhista: 120 h (pranchas e cortes)
    • Coordenação: 40 h (reuniões, compatibilização, controle)

Total: 630 h

  • Taxas horárias (exemplo)
  • Sênior: R$ 280/h
  • Pleno: R$ 180/h
  • Júnior: R$ 120/h
  • Modelador BIM: R$ 120/h
  • Cadista: R$ 90/h
  • Coordenação: R$ 200/h
  • Custos diretos (horas × taxa)
  • Sênior: 50 × 280 = R$ 14.000
  • Pleno: 160 × 180 = R$ 28.800
  • Júnior: 80 × 120 = R$ 9.600
  • Modelador BIM: 180 × 120 = R$ 21.600
  • Cadista: 120 × 90 = R$ 10.800
  • Coordenação: 40 × 200 = R$ 8.000

Subtotal diretos: R$ 92.800

  • Insumos e despesas
    • Softwares/licenças rateadas: R$ 3.500
    • Reuniões e deslocamentos: R$ 2.000
    • Servidores/armazenamento/plotagens: R$ 1.200

Subtotal insumos: R$ 6.700

  • Custos indiretos rateados (overhead): 12% sobre diretos = R$ 11.136
  • Base antes de contingência: 92.800 + 6.700 + 11.136 = R$ 110.636
  • Contingência: 10% (complexidade moderada) = R$ 11.064
  • Base com contingência: R$ 121.700
  • BDI (margem + despesas não alocadas): 15% = R$ 18.255
  • Subtotal com BDI: R$ 139.955
  • Impostos (ex.: ISS 5% sobre o serviço): R$ 6.998

8) Cronograma e marcos típicos

  • T0: Kick-off e recebimento de dados
  • T0 + 1 semana: Concepção e alternativa recomendada
  • T0 + 3 semanas: Projeto básico
  • T0 + 7 semanas: Projeto executivo v1
  • T0 + 9 semanas: Compatibilização e revisões
  • T0 + 10 semanas: Entrega final
  • Apoio à obra: sob demanda, conforme contrato

Inclua janelas para:

– Aprovação de arquitetura

  • Integração com fundações e MEP
  • Aprovação do cliente entre fases

9) Riscos e contingência: o que considerar

  • Qualidade e atualização da arquitetura
  • Sondagens insuficientes ou divergentes
  • Cargas especiais não informadas (equipamentos, reservatórios, painéis pesados)
  • Mudanças de uso/lay-out tardias
  • Prazos encurtados
  • Interferências não resolvidas (MEP, shaft, firestop)
  • Critérios do cliente (padronizações proprietárias)

Tratamento:

– Matriz de riscos com probabilidade × impacto

  • Contingência entre 5% e 20% conforme classe de estimativa e complexidade
  • Cláusulas contratuais de reajuste por mudanças de escopo

10) Particularidades por tipologia

  • Concreto armado/protendido
  • Maior esforço de detalhamento de armaduras e compatibilização
  • Cuidado com derivações de protensão, perdas, desvios
  • Normas-chave: NBR 6118, 14931, 9062 (pré-moldados)
  • Estruturas de aço
  • Tempo em ligações e listas de corte/dobra, padronização de chapas
  • Interfaces com fabricante
  • Norma: NBR 8800
  • Madeira engenheirada
  • Verificações de umidade, ligações metálicas, proteção
  • Norma: NBR 7190
  • Alvenaria estrutural
  • Coordenação modular com arquitetura e instalações
  • Ensaios de blocos e prismas
  • Obras industriais e pontes
  • Ações especiais, fadiga, dilatações, aparelhos de apoio
  • Exigem mais horas sênior e coordenação
  • Reforço e reabilitação
  • Tempo em diagnóstico e campanha de ensaios
  • Simulações não lineares e fases construtivas
  • Planejamento de obra com interferência mínima

11) Boas práticas e erros comuns

Boas práticas

  • Especificar claramente inclusões, exclusões e limites de responsabilidade
  • Definir número de revisões e rito de compatibilização (datas, responsáveis)
  • Criar WBS/EAP e estimar por pacotes (bottom-up)
  • Manter banco de dados histórico de horas por tipologia e complexidade
  • Usar checklists de qualidade e carimbo de revisão independente
  • Apresentar alternativas de solução estrutural com impactos de custo de obra

Erros comuns

  • Subestimar compatibilização e revisões
  • Negligenciar a curva de aprendizado de ferramentas BIM
  • Não provisionar tempo para prazos apertados
  • Deixar impostos e deslocamentos “por fora”
  • Propostas sem premissas e sem critérios de medição de escopo

12) KPIs para gestão

  • Horas planejadas vs. realizadas por pacote
  • Retrabalho por revisão (horas e motivo)
  • Tempo médio de resposta a RFI
  • Percentual de pranchas reprovadas na 1ª compatibilização
  • Desvio de prazo por fase
  • Margem bruta do projeto

13) Dicas de prospecção e diferenciação comercial

  • Ofereça uma versão “padrão” e uma “premium” (mais iterações, visitas, BIM mais detalhado)
  • Demonstre impacto na obra: como sua solução reduz aço/concreto, prazos e interferências
  • Conteúdo técnico (artigos, estudos de caso) que eduque e gere autoridade
  • Respostas rápidas a leads com checklist de briefing para acelerar orçamento
  • Mantenha uma calculadora paramétrica interna para prazos e custos estimativos ⚙️

14) Engenharia Diagnóstica e orçamento

Quando há patologia ou reforço:

– Planeje campanha de ensaios: pacometria, esclerometria, ultrassom, mapeamento de fissuras, extração de testemunhos, ensaios químicos

  • Orce tempo de visita, execução de ensaios, laudo com recomendações
  • Para projeto de reforço, considere modelagens específicas, fases construtivas e acompanhamento de obra
  • Estime mobilização/desmobilização, EPI/EPC, e eventuais licenças

Gostou deste conteúdo? Compartilhe!