1) O que o ruído “está dizendo”
– Som oco/“cavo” ao bater ou pisar:
– Sinal típico de peça cerâmica/porcelanato descolada da argamassa OU contrapiso descolado da laje.
– Rangidos/estalos (“crec-crec”):
– Atrito entre camadas (p. ex., contrapiso fissurado), pontos de contato rígido numa solução “flutuante”, ou movimentação térmica em fixações metálicas (steel deck).
– Estalo seco, pontual, ao pisar em áreas específicas:
– Trincas ativas abrindo/fechando, blocos de enchimento (laje treliçada) soltos, ancoragens ou insertos trabalhando.
– “Tambor”/ressonância com vibração perceptível:
– Laje esbelta com pouca massa/baixo amortecimento, piso seco mal lastreado, ou deck metálico com fixações insuficientes.
– Queixa do vizinho de baixo (ruído de impacto):
– Mais relacionado ao desempenho acústico do sistema de piso do que à estrutura; pode coexistir com oco, mas são fenômenos distintos.
2) Principais causas por sistema
– Revestimento cerâmico/porcelanato:
– Falta de dupla colagem, argamassa inadequada (AC-I onde precisava AC-II/AC-III), “tempo em aberto” excedido, ausência de juntas, retração/choque térmico. Peças ocas e rejuntes trincando.
– Contrapiso cimentício:
– Espessura insuficiente, falta de ponte de aderência, traço pobre, pouca compactação, cura deficiente, umidade ascendente. Forma “placas” que batem e rangem.
– Laje treliçada (vigotas + blocos cerâmicos/ EPS):
– Blocos de enchimento fraturados/soltos, capeamento fino, fissuras no capeamento; ruído localizado entre nervuras.
– Laje steel deck:
– Parafusos de fixação ou conectores de cisalhamento insuficientes/afrouxados, atrito metal–concreto, vibração tipo “tambor”.
– Sistemas de piso flutuante/laminado/vinílico:
– Substrato irregular, underlay inadequado, ausência de fita perimetral: rangidos por atrito e pontes acústicas.
– Questões estruturais e de vibração:
– Laje muito esbelta com frequência natural baixa, flechas excessivas ou trincas ativas; ruído acompanha vibração e sensação de piso “mole”.
3) Diagnóstico rápido em 30–60 minutos
- Levantamento básico
- Tipo de laje (maciça, treliçada, nervurada, steel deck, mista), idade da obra, histórico de reformas.
- Camadas do piso: revestimento, argamassa colante, contrapiso, manta acústica (se houver).
- Onde e quando o ruído ocorre (mapear horários, temperatura, pontos do ambiente).
- Mapeamento por percussão
- Use um martelo de borracha/moeda e marque em fita os pontos com som oco no revestimento. Densidade: a cada 40–50 cm.
- Repita no contrapiso se possível (em área sem revestimento).
- Inspeção visual
- Procure trincas nos rejuntes, descolamentos nos rodapés, desníveis/embarrigamentos do piso, frestas perimetrais inexistentes (sem folga).
- Em laje treliçada, observe alinhamento de nervuras e eventuais trincas longitudinais no capeamento.
- Nível e flecha
- Com um nível laser ou régua de 2 m, verifique planicidade e possíveis “bacias”. Afundamentos podem indicar contrapiso solto ou flecha excessiva.
- Vibração
- Pise com pulso/ritmo e sinta se há ressonância. Se quiser registrar, um app de acelerômetro no celular já dá um comparativo entre áreas.
- Pontos com ruído metálico
- Em steel deck, escute diferença de timbre; cheque parafusos aparentes, pontos de solda/colagem, folgas em perfis.
- Umidade
- Medidor de umidade superficial ajuda a correlacionar destacamentos por umidade ascendente (banheiros, cozinhas, varandas).
- Registro
- Filme com áudio e marque no piso o contorno das áreas ruidosas. Isso orienta a correção localizada.
- Sinais de alerta
- Se o ruído vier com fissuras > 0,3 mm, portas emperrando, deslocamentos perceptíveis ou peças “afundando”, interrompa o uso e faça avaliação estrutural antes de qualquer reparo.
4) Soluções por cenário
A) Revestimento descolado (som oco, rejunte trincado)
– Correção localizada:
– Remover peças ocas, limpar base, aplicar ponte de aderência quando indicado, assentar com argamassa colante adequada (AC-II/AC-III conforme fabricante e ambiente) com dupla colagem, rejuntar com juntas compatíveis e selar perimetralmente.
– Quando o oco for generalizado (>20–30% da área):
– Reassentar o ambiente inteiro para garantir desempenho homogêneo. Injeção de caldas/resinas sob porcelanato é paliativa e pouco durável na maioria dos casos.
B) Contrapiso descolado da laje (oco ao pisar mesmo sem cerâmica)
– Opção definitiva:
– Demolir contrapiso, regularizar a laje, aplicar ponte de aderência (nata de cimento com aditivo acrílico ou conforme especificação), refazer contrapiso com traço especificado, compactação e cura úmida. Abrir juntas serradas e respeitar dessolidarização perimetral.
– Opção de reparo por injeção:
– Injetar calda de cimento com aditivo expansor/adesivo ou resina PU de baixa viscosidade, em malha de furos, até preenchimento completo. Usar com critério; não resolve problemas de retração generalizada ou base muito fraca.
C) Laje treliçada com enchimento/capeamento problemático
– Intervenção localizada:
– Remover revestimento/contrapiso no trecho, grautear vazios, recompor capeamento com microconcreto e tela, respeitando juntas.
– Intervenção mais ampla:
– Reforço do capeamento e/ou adição de contrapiso com maior massa e manta resiliente, conforme verificação da capacidade de carga. Em casos críticos, avaliar reforço estrutural.
D) Laje steel deck com ruído metálico/ressonância
- Aperto/substituição de fixações e conectores; complementação de parafusos onde a malha está “frouxa”.
- Injeção de PU de baixa viscosidade nos pontos de atrito deck–concreto (técnica de nicho).
- Aumento de massa/amortecimento: sobrecapa (microconcreto) + manta resiliente sob novo piso.
- Revisão de apoios e ligações periféricas.
E) Ruído de impacto (acústica) incomodando vizinhos
– Solução padrão:
– Sistema de piso flutuante: manta resiliente (5–10 mm, com desempenho ΔLw declarado) sobre base regularizada + contrapiso flutuante ou placa cimentícia, fita perimetral em todo o contorno e juntas, sem pontes rígidas em rodapés e ralos.
– Alternativas menos intrusivas:
– Underlays sob piso vinílico/laminado (com perda de impacto certificada), tapetes em áreas de circulação. Reduzem a transmissão, mas não eliminam ruídos de peças soltas.
F) Vibração/ressonância do conjunto piso–laje
– Ações típicas:
– Aumentar massa (contrapiso de maior densidade), introduzir amortecimento (manta resiliente), ou elevar rigidez (reforços locais com laminados de fibra de carbono/chapas metálicas, mediante cálculo).
- Redistribuir cargas e evitar excitações rítmicas (máquinas sem apoio resiliente).
5) Boas práticas ao refazer piso/contrapiso
- Substrato: limpar, remover pó e partes soltas; corrigir fissuras e regularizar.
- Ponte de aderência: obedecer ao sistema especificado (nata com polímero, adesivos epóxi, ou argamassas de aderência).
- Espessuras mínimas e juntas: respeitar especificações do fabricante e abrir juntas serradas em malha e perimetrais; transferir juntas da laje para o revestimento.
- Argamassa e colagem: escolher AC-II/AC-III conforme tamanho da peça e ambiente; dupla colagem em peças grandes; controlar “tempo em aberto”.
- Cura: manter umidade controlada (quando aplicável) e evitar tráfego prematuro.
- Acústica: usar manta certificada, fita perimetral contínua e evitar pontes rígidas (rodapés/soleiras).
- Recebimento: percussão 100% das peças, planicidade com régua de 2 m, verificação de juntas e selagens.
6) Faixas de custo de referência (mão de obra + materiais, valores típicos Brasil; variam por cidade e padrão)
- Remoção de revestimento e recomposição localizada: R$ 120–250/m² (pode subir com porcelanatos grandes).
- Refazer contrapiso convencional: R$ 80–150/m².
- Contrapiso autonivelante (camadas finas): R$ 120–220/m².
- Sistema flutuante com manta resiliente: R$ 40–120/m² (manta) + R$ 100–200/m² (contrapiso/placa cimentícia).
- Injeção de calda/resina em contrapiso: R$ 70–150/m² em áreas localizadas.
- Reforços estruturais (lamelas de FRP/chapas): orçamento sob projeto, caso a caso.