1) Pela resistência e aplicação estrutural (NBR 8953 e NBR 6118)
- Concreto “convencional” C20–C40 (fck 20–40 MPa)
- Uso: obras residenciais/comerciais usuais, pilares, vigas, lajes.
- Vantagens: custo mais baixo, disponibilidade ampla.
- Cuidados: especificar abatimento (slump) adequado ao método de lançamento e cobrimento conforme classe de agressividade ambiental.
- Concretos de alta resistência (CAR) e alto desempenho (CAD) fck ≥ 50 MPa
- Uso: edifícios altos, peças esbeltas, protendidos, pontes.
- Vantagens: seções menores, maior módulo e durabilidade quando bem dosado.
- Cuidados: baixa relação a/c, controle rigoroso de cura, aditivos superplastificantes e, frequentemente, adições (sílica ativa, metacaulim, cinza volante, escória). Custo por m³ maior, mas pode reduzir aço/forma.
- Concreto para pisos industriais
- Uso: pisos de galpões, centros de distribuição.
- Características: resistência à abrasão, controle de retração; frequentemente com fibras metálicas ou sintéticas (macro).
- Cuidados: planicidade, serrilhas de juntas, cura imediata, eventualmente endurecedores de superfície.
2) Pela trabalhabilidade e método de lançamento
- Convencional adensado por vibração
- Slump conforme necessidade (p. ex., 80–120 mm).
- Uso geral; depende de boa vibração interna/externa.
- Bombeável
- Ajustado para bombeamento (granulometria contínua, pasta suficiente, aditivos).
- Vantagens: produtividade; chega a grandes alturas/alcances.
- Cuidados: pressão de bomba, evitar segregação, lavagem de linha.
- Autoadensável (CAA)
- Flui e se adensa por gravidade (sem vibração); caracterizado por “slump-flow” (diâmetro de espalhamento) e ensaios de passagem/segregação.
- Vantagens: excelente acabamento, preenche formas complexas e armaduras densas, reduz ruído e retrabalho.
- Desvantagens: 10–30% mais caro que convencional; requer controle finíssimo de dosagem e viscosidade.
- Uso: elementos muito armados, peças arquitetônicas, pré-moldados.
- Projetado (shotcrete), via seca ou úmida
- Lançado a alta velocidade; adensamento pelo impacto.
- Uso: túneis, contenções, contenção de taludes, reparos.
- Vantagens: aplica-se em superfícies verticais/invertidas; ganho rápido com aceleradores.
- Cuidados: rebote, dosagem de fibras, controle de espessura e cura.
- Rolado (CCR – concreto compactado com rolo)
- Muito baixo slump, compactado com rolos vibratórios (sem formas convencionais).
- Uso: barragens, pavimentos, pátios.
- Vantagens: produtividade e custo por m³ mais baixo em grandes volumes.
- Cuidados: juntas frias, cura e controle de calor.
- Permeável (pavimento drenante)
- Alta porosidade para infiltração de água.
- Uso: estacionamentos, calçadas, controle de drenagem.
- Cuidados: proteção contra entupimento, base bem drenante, resistência menor.
3) Pela massa específica
- Concreto leve estrutural
- Agregados leves (argila expandida, vermiculita, perlita) e/ou espuma.
- Densidade: ~1400–2000 kg/m³.
- Uso: reduzir peso próprio, elementos de fachada, lajes leves.
- Cuidados: módulo menor, retração/fluência podem aumentar; custo de agregados.
- Concreto pesado
- Agregados de alta densidade (barita, hematita, magnetita).
- Densidade: > 2800 kg/m³.
- Uso: blindagem radiológica, contrapesos.
- Cuidados: trabalhabilidade, desgaste de equipamento, custo.
4) Por durabilidade e ambiente de exposição (NBR 6118 e NBR 12655)
- Concretos para ambientes agressivos (classe I a IV)
- Ajustes: fck mínimo maior, menor relação a/c, cobrimentos maiores, eventualmente cimento/adições resistentes a sulfatos (RS) e baixa permeabilidade.
– Exemplos:
– Ambiente marinho: a/c baixa, escória/sílica/metacaulim, cobrimento elevado, aditivo inibidor de corrosão quando aplicável.
- Ambientes com sulfatos: usar cimento RS (resistente a sulfatos) ou escória/pozolanas em teor adequado.
- Ciclo gelo/degelo (menos comum no Brasil): concreto com ar incorporado.
- Concreto de baixo calor de hidratação (massas)
- Uso: blocos de fundação, barragens, grandes volumes.
- Estratégia: cimentos com menor calor (p. ex., com escória ou classe especial), controle térmico, a/c baixa, resfriamento quando necessário.
5) Por composição do ligante (tipos de cimento e adições)
- Cimentos (ABNT NBR 16697)
- CP I: Portland comum (quase sem adições).
- CP II-F: composto com fíler calcário.
- CP II-E: composto com escória de alto-forno.
- CP II-Z: composto com pozolana.
- CP III: alto-forno (alto teor de escória).
- CP IV: pozolânico.
- CP V-ARI: alta resistência inicial (pega e ganho de resistência mais rápidos).
- Sufixos/variações: RS (resistente a sulfatos), BC (baixo calor), entre outros.
- Escolha: depende de cura, calor, durabilidade desejada, prazo, disponibilidade.
- Adições minerais (SCMs)
- Sílica ativa: reduz permeabilidade, aumenta resistência e coesão; ótima para CAD/CAR e ambientes severos.
- Metacaulim: melhora durabilidade e resistências iniciais.
- Cinza volante: melhora trabalhabilidade e durabilidade, reduz calor.
- Escória granulada: melhora durabilidade e reduz calor; ganho de resistência mais lento.
- Aditivos químicos
- Plastificantes/superplastificantes: aumentam fluidez sem elevar água (reduzem a/c).
- Retardadores/aceleradores: ajustam tempo de pega (calor, prazos).
- Incorporadores de ar: melhoram resistência a gelo-degelo e trabalhabilidade.
- Modificadores de viscosidade: essenciais em CAA para evitar segregação.
- Inibidores de corrosão: ambientes cloretados.
- Fibras
- Aço (macro): controle de fissuração, substituição parcial de telas em pisos e túneis.
- Polipropileno (micro): mitiga fissuras plásticas; macro para tenacidade.
- Vidro AR: peças finas, elementos arquitetônicos.
- Carbono/basalto (menos comuns): reparos de alto desempenho.
6) Por finalidade específica
- Concreto para protensão
- fck mais alto, baixa relaxação; controle de fissuração e módulo.
- Baixa a/c, cura rigorosa, geralmente superplastificante e adições.
- Concreto para reparo estrutural
- Argamassas/concretos poliméricos ou de retração compensada, pega rápida.
- Uso: recuperação de bordas de lajes, consoles, cobrimentos.
- Concretos especiais
- UHPC/UPFRC (ultra alto desempenho): fck 120–200 MPa, fibras de aço, baixíssima permeabilidade; pontes, painéis finos, reforços. Custo elevado e controle laboratorial.
- Concretos coloridos/arquitetônicos: pigmentos estáveis, cimentos brancos.
- Concretos refratários: para altas temperaturas (não usuais em estruturas comuns).
7) Como escolher o tipo certo
- Elementos com muita armadura, formas complexas, acabamento superior?
- Prefira CAA (autoadensável).
- Grandes alturas/alcances de lançamento?
- Concreto bombeável, com dosagem para bomba.
- Pisos industriais ou túneis com exigência de tenacidade e menor malha?
- Concreto com fibras (aço ou macro sintética).
– Ambientes agressivos (marinho/industrial) e vida útil alta:
– Cimento com escória/pozolana, baixa a/c, adições minerais, cobrimento maior.
– Grandes volumes (blocos, barragens) com risco de fissurar por calor:
– Baixo calor (CP III/escória), resfriamento, controle térmico; CCR para barragens/pavimentos.
– Estruturas altas ou peças esbeltas:
– CAR/CAD com sílica/metacaulim e superplastificante.
– Necessidade de aplicar em taludes/teto:
– Projetado via úmida com acelerador; considerar fibras.
8) Custo relativo e impactos
- Convencional vs. bombeável: similar por m³; bombeável ganha em produtividade.
- CAA: tipicamente 10–30% acima por m³; compensa via menor retrabalho, melhor acabamento e prazo.
- CAR/CAD: mais caro por m³, mas pode reduzir aço, formas e dimensões.
- Fibras: agregam custo direto, porém reduzem mão de obra de telas e melhoram desempenho em pisos e túneis.
- CCR: custo por m³ menor em grandes volumes devido à logística e compactação mecanizada.
- UHPC: muito elevado; apenas quando se exige desempenho extremo.
9) Controle tecnológico e recebimento (pontos-chave)
– Especificação clara:
– fck aos 28 dias, abatimento (ou slump-flow no CAA), classe de agressividade, a/c máxima, tipo de cimento/adições, tamanho máximo do agregado, e requisitos de durabilidade (permeabilidade/absorção quando aplicável).
– Ensaios:
– Abatimento (trabalhabilidade) no recebimento.
- Corpos de prova cilíndricos para compressão (moldagem, cura e ensaio conforme ABNT).
- Para CAA: slump-flow, caixa L, funil V, segregação.
- Para pisos: planicidade/nível, resistência à abrasão, serrilhas.
– Execução:
– Vibração adequada (exceto CAA), cura imediata (película, manta úmida), controle de juntas.
– Diagnóstico (sua área):
– Esclerometria, ultrassom, pacometria, mapeamento de carbonatação/cloretos, extração de testemunhos quando necessário.
10) Exemplos rápidos de especificação por caso
- Viga/pilar em prédio comercial urbano
- C30, slump 100 ± 20 mm, agregado 19 mm, cimento CP II-E ou CP II-Z, a/c ≤ 0,55, cobrimento conforme NBR 6118, superplastificante, cura 7 dias.
- Laje muito armada com acabamentos aparentes
- C35 CAA, slump-flow 650 ± 50 mm, resistência à segregação testada, agregado 12,5 mm, modificador de viscosidade, cura com membrana.
- Piso industrial de 20 cm com tráfego pesado
- C35 com fibras de aço 25–35 kg/m³, abatimento 80–120 mm, retração reduzida (adições), acabamento com régua vibratória e cura imediata; serrilhas conforme painel/junta.
- Estrutura em ambiente marinho
- C40, a/c ≤ 0,45, cimento com escória/pozolana ou CP V-ARI com adições, sílica ativa 5–10%, inibidor de corrosão se aplicável, cobrimento maior, cura rigorosa.
- Barragem/volume maciço
- CCR ou concreto de baixo calor com CP III/escória, controle térmico, juntas de contração, cura úmida prolongada.
11) Erros comuns que diferenciam “bom” de “ruim”
- Escolher concreto “mais barato” sem considerar durabilidade/ambiente, resultando em manutenção precoce.
- CAA sem controle de viscosidade e compatibilidade de aditivos, gerando segregação e ninhos.
- Ignorar granulometria e teor de pasta para bombeamento (entupimento/pressões altas).
- Cura deficiente: perda de resistência e durabilidade, fissuração e poeiramento em pisos.
- Aditivos incompatíveis entre si ou com o cimento (variações sazonais de matéria-prima das cimenteiras importam).