1) O que é BIM
- É um processo de gestão da informação do ativo, do anteprojeto à operação, com um “modelo” que concentra geometrias + propriedades + histórico.
– Requer:
– Objetivos claros de informação (EIR/AIR – requisitos do contratante).
- Plano de Execução BIM (BEP) definindo papéis, softwares, entregáveis e trocas de informação.
- Ambiente Comum de Dados (CDE) para versionamento, revisão e rastreabilidade.
- Interoperabilidade: IFC para modelos, BCF para issues, COBie para dados de ativos.
- Níveis de informação: LOIN (informação necessária por uso, fase e elemento).
Resultados típicos quando bem implementado:
– 30–50% menos retrabalho por conflitos antecipados, melhor previsibilidade de prazo/custos, assertividade em quantitativos e assistência à manutenção.
2) Aplicação em Engenharia Estrutural
Principais usos
- Modelagem estrutural 3D e coordenação com arquitetura/MEP.
- Compatibilização e detecção de interferências (clash).
- Detalhamento de armaduras, inserts e furações (BIM-to-Fabrication).
- Planejamento 4D (tempo) e 5D (custos/quantitativos).
- Análise estrutural integrada (exportação para softwares de cálculo).
- Planejamento de formas e escoramentos, logística de montagem (pré-moldado/steel).
- As-built digital para operação e futuras ampliações.
Fluxo prático
- Definir objetivos de informação (ex.: “reduzir RFI de furações em 70% antes da obra”).
- BEP: responsabilidades, softwares, padrões (nomenclatura, pastas no CDE, revisões).
3) Modelagem paramétrica:
– Concreto: pilares, vigas, lajes, paredes estruturais, consolos; vergalhões com diâmetro, classe e sobreposições.
- Aço: perfis, chapas, parafusos, soldas e placas de base.
4) Interoperabilidade com cálculo:
– Troca de modelos via formatos nativos e/ou IFC para softwares estruturais.
- Ajuste de malhas (eixos, níveis, cargas e vínculos).
5) Compatibilização:
– Rodadas semanais de clash (estrutural × MEP × arquitetura) com BCF para gestão de pendências.
6) 4D/5D:
– Vincular elementos a tarefas (cronograma) e composições de custo (QTO/BOQ).
7) Documentação:
– Extração automática de pranchas, listas de vergalhões/corte/dobra e mapas de furos/embutidos.
8) Entrega/Controle:
– IFC federado, relatórios BCF, QTO em CSV/XLS e vídeo 4D para obra.
Ferramentas típicas
- Modelagem/detalhamento: Revit, Tekla Structures, Advance Steel.
- Cálculo: Robot, SAP2000/ETABS, TQS, Eberick.
- Coordenação/Clash: Navisworks, Solibri, Revizto.
- 4D/5D: Synchro, Navisworks Quantification, CostX, Vico.
- Automação: Dynamo, Grasshopper.
Exemplos rápidos
- Lajes nervuradas com MEP: clash detecta dutos altos e reposiciona nervuras antes da fôrma.
- Pré-moldado: simulação 4D otimiza sequência de içamento e reduz ociosidade de guindastes.
- Armaduras: modelo com regras de cobrimento impede conflito de dobras em consolos.
3) Aplicação em Engenharia Diagnóstica
Principais usos
- Inspeções e mapeamento de manifestações patológicas no modelo (por elemento).
- As-built via varredura a laser (scan-to-BIM) para reformas e reforços.
- Gestão de anomalias com severidade, causa provável e recomendação associadas ao elemento.
- Integração com fotos georreferenciadas, relatórios e ordens de serviço.
- Simulação e comparação “antes/depois” de reforços e substituições.
- Entregas ricas em dados para operação: COBie, planos de manutenção, manual do proprietário.
Fluxo prático
1) Levantamento:
– Laser scan/fotogrametria e inspeção visual (checklists), umidade (termografia/higrômetro), ferrugem (inspeção passiva/ativa).
2) Processamento:
– Registro de nuvens de pontos e modelagem com LOIN compatível ao objetivo (diagnóstico ≠ fabricação).
3) Mapeamento de anomalias:
– Parâmetros no elemento (ex.: fissura “F1-23”, abertura 0,6 mm, direção, data) e link para fotos.
- Cores por severidade/risco para leitura rápida em coordenação.
4) Análise e proposta:
– Relatórios com estatísticas (área afetada, tipos, tendências) e simulações de intervenção.
5) Entrega:
– IFC com property sets, planilhas (CSV/XLS) e relatórios ilustrados; se houver operação, COBie.
Ferramentas e integrações úteis
- Captura: scanners (laser) e drones, software de registro de nuvem.
- Modelagem: Revit/Archicad; plugins de inspeção; parametrização (Dynamo).
- Coordenação e campo: Autodesk Construction Cloud (Build/Docs), Trimble Connect, Revizto, Dalux, PlanRadar.
- Dashboards: Power BI conectado a IFC/COBie/CSV.
Exemplo prático
- Cobertura com infiltração: nuvem de pontos + inspeção identifica pontos baixos, ralos subdimensionados e falhas de arremate. O modelo 3D colore as áreas com umidade e calcula o volume de regularização, gera detalhes de ralo e platibanda e entrega memorial de intervenção com QTO por frente de serviço.
4) Padrões e interoperabilidade (sem complicar)
- ISO 19650 (ABNT NBR ISO 19650): gestão da informação, papéis, CDE, revisão e troca de modelos.
- LOIN (Level of Information Need): define a informação mínima por uso/etapa/elemento. Evita “overmodel”.
- LOD (AIA 100–500): ainda comum em contratos; use acompanhado de requisitos de propriedade (LOI).
- IFC (2×3/IFC4): modelo aberto para troca entre plataformas.
- BCF: pacote leve de issues (pontos de vista, comentários, status) para coordenação.
- COBie: planilha de dados de ativos para operação/manutenção.
- Classificação da informação: ABNT NBR 15965 (no Brasil) e/ou sistemas como Uniclass/OmniClass para codificar elementos, espaços, atividades.
Dica: publique um “guia de codificação” anexo ao BEP (nomenclatura de arquivos, pastas, revisões, parâmetros, classificação). Isso reduz gargalos na coordenação.
5) Entregáveis que importam para clientes e obra
- Federado IFC + relatório de clash (BCF) com status resolvido/em aberto.
- Quantitativos (CSV/XLS) por WBS/disciplinas/frentes, com rastreabilidade ao modelo.
- Vídeo 4D do caminho crítico e frentes de serviço (alinhado ao cronograma).
- Pranchas “derivadas do modelo” (plantas, cortes, isométricos, detalhes).
- Plano de inspeção/manutenção (COBie/planilha) com ciclos e criticidade.
- As-built validado com comparação modelo x nuvem de pontos (tolerâncias).
6) Roadmap de implantação (prazo de 90 dias para começar bem)
0–30 dias
- Definir metas de negócio (ex.: reduzir retrabalho em 25%, ganhar 2 novos contratos/mês com propostas BIM).
- Escolher um projeto-piloto de baixa complexidade.
- Criar seu BEP enxuto: objetivos, papéis, softwares, CDE, padrões de nome e revisão, LOIN por fase.
– Preparar “Kit BIM” inicial:
– Template de modelagem (famílias, parâmetros, filtros de vista).
- Matriz de responsabilidades (RACI) e fluxo de issues (BCF).
- Checklists de modelagem/coordenação e guia de codificação.
31–60 dias
- Modelagem do piloto e rodadas semanais de compatibilização.
- Começar 4D/5D em uma frente (ex.: estrutura).
- Automação leve (Dynamo): cor por status, extração de QTO, nomeação.
- Primeiros entregáveis: federado IFC, relatório de clash, QTO, 4D.
61–90 dias
- Refinar BEP/LOIN a partir das lições aprendidas.
- Incluir fluxo de campo (app mobile) para fotos/issues vinculados ao modelo.
- Introduzir scan-to-BIM em área crítica e validação do as-built.
- Preparar material comercial com “antes/depois”, números de retrabalho evitado e QTO rastreáveis.
7) Stack de software sugerida (custo/benefício e realidade brasileira)
- Modelagem/coordenação: Revit + Navisworks (amplo ecossistema) ou Archicad + Solibri. Para aço/concreto pesado, Tekla Structures.
- Estruturas BR: TQS/Eberick para cálculo + interoperabilidade IFC com modelo BIM.
- Coordenação e campo: Autodesk Construction Cloud (Docs/Build), Revizto, Trimble Connect, Dalux.
- Planejamento: Synchro (4D), Primavera/MS Project. 5D com CostX/Excel conectado.
- Automação: Dynamo (Revit), Grasshopper (Rhino), Python para pós-processamento de IFC/CSV.
- Dashboards: Power BI (conectando IFC/CSV/COBie).
Comece pequeno: modelo em Revit/IFC, clash no Navisworks, QTO em Excel, issues em BCF. Evolua para CDE e apps de campo conforme maturidade.
8) Casos de uso detalhados para prospectar e entregar valor
- Compatibilização antecipada de furações
- Dor do cliente: interferências em obra, retrabalho de fôrmas e eletrocalhas.
- BIM: clash focado (categoria “furação”), issue BCF por pavimento, reunião semanal.
- Entregável: mapa de furos aprovado antes das fôrmas. ROI: redução de retrabalho e atraso.
- Reforço estrutural em retrofit
- Dor: projeto “as-built” desatualizado.
- BIM: scan-to-BIM de pilares/vigas/lajes, modelo com armaduras estimadas/abrangências, simulação do reforço (chapas/fibras/jacketing) e conflitos com MEP.
- Entregável: sequência de execução (4D), QTO de materiais, pranchas derivadas do modelo.
- Diagnóstico de fachada com mapeamento de patologia
- Dor: laudos extensos e pouco visuais; prioridade de intervenção.
- BIM: grid de fachada, parâmetros de anomalias (tipo, severidade, data), coloração por risco.
- Entregável: relatório com heatmap por pano, planilha priorizada e cronograma de intervenção.
- Manutenção programada (COBie light)
- Dor: perdas de informação entre obra e operação.
- BIM: atributos mínimos em portas, equipamentos e sistemas; plano de manutenção vinculado.
- Entregável: planilha COBie simplificada + modelo IFC com filtros por criticidade.
9) LOIN/LOD na prática (como não “overmodelar”)
– Defina por uso e fase:
– Concepção estrutural: geometrias principais, cargas e eixos (LOIN baixo).
- Compatibilização MEP: espessuras de laje, posições de vigas, aberturas e reservas (LOIN médio).
- Detalhamento/fabricação: dobras, listas e tolerâncias onde necessário (LOIN alto).
- Documente no BEP uma matriz LOIN por elemento (pilar, viga, laje, poço, duto, ralo, etc.) e por fase.
10) Boas práticas para evitar frustração
- “Modelo único perfeito” não existe. Use modelos por disciplina e federados.
- Padronize parâmetros desde o início (nomes únicos, unidades e listas de valores).
- Controle de versões no CDE; nada de “Projeto_final_FINAL_v3.pdf”.
- Rodadas de coordenação curtas e frequentes, com issues BCF bem descritos.
- Sempre feche o ciclo: decisão registrada no issue, revisão do modelo e atualização do QTO/4D.
- Valide quantitativos com amostragem manual – confiança vem com verificação.
- Para diagnóstica: fotografe tudo, anexe aos elementos e mantenha trilha de auditoria.
11) KPIs para medir resultado (e vender BIM)
- Conflitos críticos resolvidos antes da obra.
- Variação de quantitativos entre versões.
- Redução de RFIs e tempo médio de resposta.
- % de tarefas com vínculo 4D concluídas no prazo.
- Diferença entre QTO previsto × executado (por família/atividade).
- Para diagnóstica: tempo do ciclo inspeção→relatório→OS e reincidência de anomalias.
Use esses números em propostas e estudos de caso com imagens do modelo e 4D. Isso converte leads.
12) Como transformar em oferta comercial
– Pacote BIM de Compatibilização Estrutural:
– Escopo: federado IFC, 3 rodadas de clash, mapa de furações, 1 vídeo 4D, QTO de concreto/armadura.
- Entregáveis: IFC, BCF, relatório, CSV, MP4 do 4D, pranchas.
– Pacote Diagnóstico BIM de Fachadas:
– Escopo: mapeamento no modelo, classificação por severidade, plano de intervenção e QTO.
- Entregáveis: modelo colorido, planilha de prioridades, caderno de detalhes tipo.
– Pacote As-built Scan-to-BIM:
– Escopo: varredura, modelo LOIN adequado, comparação nuvem×modelo, relatório de tolerâncias.
Preço/estimativa: parametrize por área, complexidade e número de rodadas de coordenação. Entregue uma amostra: planta colorida, 1 vista 3D e um trecho do relatório — ótimo para fechar contrato.
13) Automatizações rápidas que geram valor
– Dynamo:
– Coloração automática por status de issue/severidade.
- Extração de QTO por WBS e exportação para CSV.
- Renomeação e padronização de parâmetros (Ex.: “Severidade_Fachada”).
– Power BI:
– Painel que consome CSV/IFC/COBie e mostra KPIs, heatmap de anomalias e evolução de clash.
– BCF:
– Integração com Navisworks/Solibri/Revizto para rastrear pendências até a resolução.