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Causas de Rachaduras em Paredes Guia Técnico e Prático para Diagnóstico

1) Conceitos rápidos

  • Fissura: abertura muito fina, geralmente < 0,3 mm, superficial (comum em revestimentos).
  • Trinca: abertura entre ~0,3 e 2 mm, pode indicar movimento relevante.
  • Rachadura: > 2 mm, com potencial comprometimento de desempenho/segurança e infiltrações.
  • Passiva x ativa: passiva não evolui; ativa cresce/abre/fecha com o tempo, clima ou uso.

Observação prática: essas faixas são referenciais usuais de campo. Sempre avalie contexto, extensão, continuidade, deslocamentos e evolução.

2) As 12 causas mais frequentes e seus “sinais característicos”

  1. Recalque diferencial de fundação/solo
  • Como aparece: trincas diagonais em “escada” nas juntas da alvenaria, aberturas em 45° em encontros de paredes, portas/janelas emperrando, frestas em rodapés.
  • Onde olhar: canto de vãos, encontro de alvenarias, regiões próximas a pilares externos, áreas com umidade no solo ou novas cargas.
  • O que confirma: histórico de obras próximas/escavações, solos expansivos, medição da evolução (fissurômetro), nível/prumo acusando deslocamentos, patologias correlatas em pisos.
  • Cuidado: pode exigir intervenção geotécnica/estrutural.
  • Deformação de vigas/lajes e falta de dessolidarização da vedação
  • Como aparece: trincas horizontais próximas ao encontro da laje com alvenaria, ou inclinadas 30–45° partindo de cantos superiores de vãos; “sorriso” acima de portas.
  • Mecanismo: flecha de viga/laje transfere esforços para a vedação rígida.
  • Confirmação: flechas medidas, ausência de junta de dessolidarização ou cordão resiliente.
  • Ausência/deficiência de vergas e sobrevergas
  • Como aparece: trincas diagonais 45° nos cantos de janelas/portas; fissuras horizontais acima de vergas mal dimensionadas.
  • Confirmação: abrir pequenos pontos para verificar presença de verga/sobreverga, armadura, ancoragem e comprimento.
  • Incompatibilidade estrutura x alvenaria (diferentes deformabilidades)
  • Como aparece: trincas verticais junto a pilares (interface pilar-alvenaria), “fio” vertical contínuo que reaparece após pintura.
  • Confirmação: falta de juntas de movimentação/encunhamento correto; encontro rígido sem material compressível.
  • Retração da argamassa/revestimento e do bloco
  • Como aparece: padrão em “mapa/couro de crocodilo” no reboco, microfissuras generalizadas; trincas finas junto a juntas horizontais.
  • Causas: traço pobre ou muito rico em cimento, alta água/aglomerante, cura inadequada, vento/sol intenso.
  • Confirmação: trincas restritas ao revestimento (ao raspar não atravessam a alvenaria).
  • Movimentação térmica/higroscópica + falta de juntas
  • Como aparece: trincas longas, retilíneas, recorrentes em fachadas extensas, mudanças de cor devido a infiltração ao longo das fissuras.
  • Confirmação: grandes panos sem juntas, orientação solar severa, amplitudes térmicas.
  • Umidade: infiltração, percolação, capilaridade
  • Como aparece: trincas associadas a manchas, eflorescência, desprendimento de reboco; aberturas em bases de parede (capilaridade).
  • Mecanismo: expansão por sais, variações volumétricas do reboco/alvenaria, degradação do aglomerante.
  • Confirmação: higrômetro, termografia, inspeção de fontes de água (rufi os, ralos, fachadas, tubulações).
  • Corrosão de armaduras em concreto/verg as/cintas adjacentes
  • Como aparece: fissura longitudinal paralela à barra (em vergas/cintas), com ferrugem e desplacamento; pode refletir na alvenaria.
  • Confirmação: pacometria/abertura de janela, carbonatação/cloretos, cover insuficiente.
  • Defeitos de execução em alvenaria estrutural (ou grauteamento/armação)
  • Como aparece: trincas alinhadas em fiadas específicas, em “escada”, nas proximidades de aberturas ou junto a pilares de alvenaria.
  • Causas: juntas fora de espessura, graute faltante, armaduras de amarração ausentes.
  • Confirmação: verificação de projetos NBR 15961, aberturas pontuais, inconsistências de execução.
  • Sobrecargas, alterações de uso e reformas
  • Como aparece: trincas novas após instalação de equipamentos pesados, arquivos, lajes técnicas, ou após remover/abrir paredes sem alívio/apoio.
  • Confirmação: comparação com projeto original, levantamento de cargas introduzidas, histórico de reforma.
  • Vibrações e impactos (tráfego pesado, máquinas, batidas)
  • Como aparece: trincas próximas a bordas, regiões frágeis; fissuras reabrem após tráfego intenso.
  • Confirmação: correlação com períodos de operação, vibrações medidas.
  • Ações ambientais/externas: vento, sismo, retração de base, raízes
  • Como aparece: fissuras em fachadas expostas, casas próximas a taludes, árvores grandes próximas às fundações, solos que incham/se retraem sazonalmente.
  • Confirmação: inspeção do entorno, histórico climático/geotécnico (solo expansivo).

3) Padrões visuais que ajudam a “ler” a causa

  • Diagonais 45° nos cantos de vãos: falta de verga/sobreverga ou recalque próximo.
  • Verticais na interface pilar-alvenaria: incompatibilidade e ausência de juntas.
  • Horizontais contínuas em fiadas específicas: movimentação térmica, corrosão em cintas/verg as, ou retração localizada.
  • “Mapa” fino no reboco: retração e cura inadequada do revestimento.
  • “Escada” acompanhando juntas: recalque diferencial ou movimentação global do pano.
  • Fissuras acima/abaixo de vergas com formato de arco: flecha e concentração de tensões.
  • Aberturas com deslocamento de um dos lados (desnível/escorregamento): quadro estrutural mais crítico.

4) Como diagnosticar na prática (passo a passo)

  1. Anamnese e contexto
  • Quando surgiu? Cresce com calor/frio/chuva? Após obra vizinha ou reforma?
  • Há portas emperrando, janelas desalinhadas, piso rachando?
  • Inspeção visual sistemática
  • Mapear todas as trincas em planta/elevação, com fotos e referência de escala.
  • Notar orientação, comprimento, espessura, continuidade e se atravessa o revestimento.
  • Ver interfaces: pilar x alvenaria, topo da parede, cantos de vãos, juntas e encontros.
  • Medição e monitoramento
  • Régua de fissura/fissurômetro para abertura inicial; medir em ao menos três pontos ao longo da trinca.
  • Lacres de gesso/epóxi para verificar atividade ao longo de semanas/meses.
  • Nível/laser para detectar prumo e flechas; trena para eventuais deslocamentos.
  • Ensaios complementares (conforme necessidade)
  • Umidade: higrômetro, termografia, teste de tubo de Karsten em fachadas.
  • Concreto e armaduras: pacometria, esclerometria (em concreto, não em reboco), coleta de pó para carbonatação/cloretos.
  • Alvenaria/revestimento: abertura de janelas para verificar vergas, graute, espessura e aderência do reboco.
  • Projeto/obra
  • Conferir se há detalhamento de juntas de movimentação, encunhamento, vergas/sobrevergas e dessolidarização.
  • Checar mudanças de uso/carga não previstas.
  • Classificação de criticidade
  • Superficial/passiva x ativa/estrutural.
  • Impacto em estanqueidade, segurança, desempenho e estética.
  • Definir necessidade de intervenção estrutural/ geotécnica ou apenas reparo local.

5) O que cada causa “pede” como abordagem

  • Recalque diferencial: investigar fundações/solo; estabilizar (drenagem, alívio de carga, estacas/micropilares se necessário); só então reparar a alvenaria (costuras, reconstituição do revestimento).
  • Flecha de vigas/lajes e vedação rígida: criar/regular juntas de dessolidarização; reforçar elementos flechantes se preciso; depois tratar trincas.
  • Falta de verga/sobreverga: instalar vergas/sobrevergas adequadas; costura com grampos inox/galvanizados e tela alcalino-resistente no revestimento.
  • Incompatibilidade pilar-alvenaria: inserir/regular juntas compressíveis e selantes flexíveis; revisar encunhamento.
  • Retração de reboco: remover trechos soltos, reexecutar com traço adequado, adições redutoras de retração, cura úmida; tela se necessário.
  • Movimentação térmica: projetar/abrir juntas com passo adequado, selantes flexíveis, cores/acabamentos que reduzam aquecimento.
  • Umidade: corrigir causa (impermeabilização, drenos, rufos, tubulações); só depois recompor revestimentos; tratar sais.
  • Corrosão de armadura: abrir, remover óxidos, passivar, recompor seção com argamassa de reparo; avaliar causa (carbonatação/cloretos).
  • Alvenaria estrutural deficiente: reforços localizados (graute/armaduras), costuras, revisão de detalhes de vãos; em casos graves, projeto de reforço.
  • Sobrecargas/reformas: reavaliar capacidade, reforçar (vigas metálicas, perfis, chapas) e redistribuir cargas; regularizar vedações.
  • Vibrações/impactos: mitigar fonte, amortecer, reforçar regiões frágeis; verificar fixações.
  • Ações ambientais/solo expansivo: controle de umidade do subsolo, beirais, afastamento de raízes, juntas e reforços onde necessário.

6) Sinais de alerta (atenção imediata)

  • Rachaduras com deslocamento de bordas (cisalhamento), abertura rápida ou > 3–5 mm.
  • Trincas que atravessam elementos estruturais (pilares/vigas) ou acompanham estrondos/estalidos.
  • Portas/janelas desalinhando rapidamente, pisos fletindo, degraus aparecendo.
  • Assentamentos visíveis, muros pórticos abrindo, sensação de instabilidade.

Nesses casos, priorize vistoria estrutural/geotécnica antes de qualquer acabamento.

7) Boas práticas de prevenção (projeto e obra)

  • Detalhar vergas/sobrevergas e amarrações em todos os vãos.
  • Prever juntas de movimentação em panos extensos de alvenaria e fachadas.
  • Encunhamento elástico e dessolidarização correta entre estrutura e vedação.
  • Traços de argamassa compatíveis, controle de água, aditivos e cura adequada.
  • Compatibilização de projeto (estrutura x arquitetura x instalações).
  • Proteção contra umidade: impermeabilização, rufos, pingadeiras, drenos.
  • Inspeções periódicas e manutenção preventiva do envelope.

Normas úteis para consulta:

– ABNT NBR 15575 (Desempenho de edificações)

  • ABNT NBR 15961 (Alvenaria estrutural – projeto/execução)
  • ABNT NBR 13749 e correlatas (Revestimentos de paredes com argamassa)

ABNT NBR 6118 (Projeto de estruturas de concreto) – para interação e cobrimentos

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