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Sustentabilidade na Construção Guia Prático e Direto para Aplicar já

1) Princípios essenciais de projeto e obra sustentáveis

– Evitar > Reduzir > Reutilizar > Reciclar > Compensar. Priorize evitar demandas desnecessárias (overspec de materiais, superdimensionamento), depois reduzir insumos e perdas, reusar/reciclar, e só então compensar emissões residuais.

– Pensamento de ciclo de vida (ACV): considerar impactos de A1–A3 (produção), A4 (transporte), A5 (obra), B (uso/manutenção), C (fim de vida) e D (benefícios além do sistema).

– Desempenho antes de produto: definir metas numéricas de desempenho térmico, energético, hídrico e de CO2, e então selecionar sistemas.

Indicadores-chave para acompanhar desde o dia 1:

 – kWh/m².ano (consumo projetado e medido) |

– L/pessoa.dia e m³/m².ano (água)

– kg CO2e/m² (embodied carbon do edifício e por pacote como estrutura, fachada, instalações)

– Taxa de desvio de resíduos de aterro (%)

– IBI/COVs (qualidade do ar interior e materiais de baixa emissão)

– Conforto: temperatura operativa, iluminância e níveis de ruído

2) Estratégias por fase

2.1 Concepção e projeto

– Briefing com metas: defina objetivos mensuráveis (ex.: WLC ≤ 450 kg CO2e/m², consumo ≤ 60 kWh/m².ano, água ≤ 75 L/pessoa.dia, desvio de resíduos ≥ 80%).

– Otimização de massa e forma: compactação volumétrica, orientação para insolação e ventilação, sombreamento passivo. Use NBR 15220 (zonas bioclimáticas) e NBR 15575 (desempenho).

### – Estrutura de baixo carbono:

– Concreto: reduzir clínquer via cimentos CP III/CP IV, uso de adições (escória, pozolana) e otimização de traços; prefira fck adequado sem superdimensionar (NBR 6118, 12655). |

  – Aço: especificar reciclado (alto conteúdo sucata) e processos elétricos quando possível; detalhamento para redução de perdas de corte.

  – Madeira engenheirada (quando aplicável): CLT/MLC com cadeia certificada (FSC/PEFC) e análise de incêndio/umidade.

– Envoltória eficiente: U baixo e inércia térmica, vidros de controle solar, brises, SRI adequado em coberturas, estanqueidade ao ar.

– Instalações eficientes: iluminação LED com dimerização, ventilação com recuperação de calor (quando aplicável), VRF/mini-split de alta eficiência, automação simples (sensores de presença e fotocélulas).

– Água: setorização e medição individualizada, bacias Dual-Flush, arejadores, reuso de águas cinzas quando viável, e aproveitamento de pluvial (ABNT NBR 15527).

– Materiais: priorize EPDs (declarações ambientais), baixo VOC, conteúdo reciclado e origem local para reduzir A4.

– BIM + ACV: integre parâmetros ambientais no modelo (IFC) para rodar ACV preliminar (A1–A5) e ajustar projeto antes do executivo.

2.2 Orçamento e planejamento

– Orçamento com linhas ambientais explícitas: custos de eficiência, gestão de resíduos (PGRCC), comissionamento e medição/monitoramento.

– Plano de Compras: critérios de seleção (EPD, logística reversa, distâncias de transporte), janelas de entrega para minimizar estoque e perdas.

– Cronograma lean: minimizar retrabalho e deslocamentos internos de materiais; prever mockups para aprovar soluções e evitar refazer.

2.3 Execução (canteiro sustentável)

– PGRCC conforme CONAMA 307 e PNRS (Lei 12.305/2010):

– Segregação em Classe A, B, C, D; caçambas identificadas; registro de volume/rota e notas fiscais de destinação.

  – Meta prática: ≥ 80% de desvio de aterro (por massa).

– Água no canteiro: captação de pluvial para limpeza/cura; bicos de baixa vazão; medição setorizada por frente.

– Energia no canteiro: geradores eficientes, priorizar rede quando possível; iluminação LED; desligamento automático.

– Logística: baias próximas aos pontos de uso, rotas sinalizadas, descarga mecanizada para reduzir perdas.

– Qualidade do ar e conforto: controle de poeira, ventilação, EPI; manter materiais sensíveis protegidos de umidade.

– Comissionamento: testes e ajustes de sistemas (elétrico, HVAC, hidráulico) antes da entrega; manual do usuário e plano de O&M (NBR 5674 – manutenção).

2.4 Operação e manutenção

– Plano de manutenção preventiva (NBR 5674), com rotinas para envoltória, sistemas de água e energia.

– Medição e verificação (M&V): submedição por uso (iluminação, HVAC, tomadas, bombas) e por pavimento; metas trimestrais.

– Eng. Diagnóstica: inspeções periódicas para estanqueidade, degradação de concreto/aço/madeira, pontes térmicas e mofo; intervenções de baixo impacto primeiro.

3) Energia e conforto: o que dá retorno rápido

– Envoltória:

 – Coberturas “frias” (SRI alto) e isolamento adequado; payback comum de 1–4 anos por reduzir carga térmica.

  – Sombreamento externo e fator solar de vidros; dimensione iluminação natural com controle de ofuscamento.

– Climatização e ventilação:

– Seleção por eficiência sazonal; selagem de dutos; ventilação controlada por CO2 em ambientes de alta ocupação.

– Iluminação:

– LED com sensores de presença e fotossensores; zonificação por uso real; DIALux/Relux para simular iluminância.

– Automação “essencial”:

– Programações horárias simples, desligamento automático de áreas comuns, telemetria de medidores. |

Metas de referência (ajuste por clima e tipologia):

-Residencial multifamiliar eficiente: 35–65 kWh/m².ano; Comercial leve: 70–120 kWh/m².ano. |

– Conforto térmico: 80–90% de horas dentro da zona de conforto adaptativo (ASHRAE 55/NBR 16401 como referência).

4) Água: reduzir consumo e patologia

– Balanço hídrico: estimar consumo por ponto e pessoa; meta inicial de 25–40% de redução versus referência local.

### – Medidas:

– Válvulas Dual-Flush, arejadores 6 L/min, chuveiros 8–10 L/min.

  – Reuso de cinzas claras (lavabos/chuveiros) para bacias sanitárias.

  – Aproveitamento de pluvial para irrigação e usos não potáveis (NBR 15527), com filtração e controle.

– Diagnóstica: testes de estanqueidade e detecção de vazamentos; impermeabilizações corretas para evitar retrabalho e mofo.

5) Materiais e baixo carbono na estrutura

– Concreto:

– Selecionar cimentos com menor fator clínquer; otimizar traço (adições, menor água/cimento), adotar cura úmida eficiente.

  – Projeto para desforma otimizada e repetição de formas; detalhes que minimizem volumes (sem comprometer desempenho).

– Aço:

– Alto conteúdo reciclado; tratar perda de corte via planificação otimizada; para perfis metálicos, avaliar liga/fornecedor com EPD.

– Madeira engenheirada:

– Avaliar CLT/MLC em tipologias viáveis; garantir proteção contra umidade e detalhamento de ligações; fonte certificada.

– Reuso/reciclados:

– Agregado reciclado: usar em base e sub-base (ABNT NBR 15116) ou concreto não estrutural; tijolos e blocos com conteúdo reciclado quando tecnicamente adequados.

– Acabamentos:

– Baixo VOC (qualidade do ar interior); preferir materiais modulares que permitam substituição seletiva ao longo da vida útil.

– Documente com EPDs sempre que possível para somar em certificações e relatórios ESG.

6) Resíduos: do canteiro à destinação final

– PGRCC prático:

 – Mapeie fluxos por fase (demolição, estrutura, alvenaria, acabamento).

  – Crie baias/caçambas identificadas, área coberta para materiais sensíveis, e treine equipe.

  – Registre massa/volume por classe e destino com evidências (MTR/manifestos).

– Metas e práticas:

– ≥ 80% de desvio de aterro (Classe A retornando a agregados; B para reciclagem; C com estudo; D com destinação especial).

  – Contrate transportadores/licenciados, audite documentação.

– Benefícios: menos viagens de caçamba (custo), organização do canteiro (produtividade), e pontuação em certificações.

7) BIM + ACV + Diagnóstica: integrando para decidir melhor

– BIM como “espinha dorsal de dados”: parâmetros ambientais no modelo (massa, material, EPD, distância de transporte), vistas/planilhas para ACV rápida.

– ACV preliminar nas alternativas: compare estrutura A vs B em CO2e, custo e prazo antes de fechar solução.

– 4D/5D: simule logística e sequenciamento para reduzir perdas e tempo de obra.

– Diagnóstica digital: use o modelo para inspeções, mapeie manifestações patológicas e conecte ordens de serviço (BIM para operação).

8) Normas, selos e compliance (Brasil)

– Normas ABNT relevantes:

-NBR 15575 (Desempenho de edificações habitacionais)

  – NBR 15220 (Desempenho térmico e zonas bioclimáticas)

  – NBR 5674 (Manutenção de edificações)

  – NBR 15527 (Aproveitamento de águas pluviais)

  – NBR 6118/12655/14931 (Concreto estrutural: projeto, preparo e execução)

  – NBR 10004 (Classificação de resíduos sólidos)

  – NBR 15116 (Agregados reciclados em camadas de pavimentação)

– Resoluções/leis:

– CONAMA 307 (Resíduos da construção civil)

  – PNRS – Lei 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos)

– Certificações (opcionais, mas úteis para mercado e financiamento):

– LEED (GBC Brasil), AQUA‑HQE (Fundação Vanzolini), EDGE (IFC). Úteis para metas, marketing e padronização de processos.

9) Plano “Aplicar já”: primeiros 90 dias

-Dias 0–30: arranque rápido

– Defina 5 metas simples no projeto/obra atual:

1) −20% energia vs. baseline

  2) −25% água

  3) ≥ 80% desvio de resíduos

  4) −15% CO2e em concreto (troca de cimento e traço)

  5) 100% materiais de baixa emissão (pinturas/selantes)

– Crie um PGRCC de 1 página com segregação em 4 classes, metas e responsáveis.

– Implante submedição: pelo menos 3 medidores (iluminação, tomadas, bombas/HVAC).

– Selecione 5 materiais com EPD/baixo VOC para especificar já.

– Capacite equipe em toolbox de 30 minutos sobre segregação, perdas e segurança.

Dias 31–60: consolidar e medir

– Rodar ACV preliminar (A1–A5) de 2 alternativas estruturais ou de fachada e decidir por menor CO2 com custo equivalente.

– Ajustar cronograma para reduzir retrabalhos (mockups e aprovações antecipadas).

– Iniciar aproveitamento de pluvial para limpeza/cura (instalação simples com filtro grosso e reservatório).

– Registrar resíduos com foto, massa/volume e destino em planilha padrão.

Dias 61–90: otimizar e comunicar

– Comissionamento básico de sistemas prediais e correções.

– Atualizar memorial e as built com soluções finais e resultados de metas.

– Preparar um relatório de desempenho (kWh/m², L/pessoa.dia, CO2e/m², % resíduos desviados) para cliente e portfólio.

10) Erros comuns (e como evitar)

– “Produto verde” sem meta de desempenho: defina indicadores; produto é consequência.

– Não medir: sem medição não há gestão; instale submedidores e use planilha simples.

– Focar só em obra e esquecer operação: entregue manual e plano de manutenção (NBR 5674).

– Reduzir material à custa de desempenho/vida útil: avalie custo total de propriedade (TCO).

– PGRCC apenas documental: sem segregação física e controle de caçambas, a meta não fecha.

11) Benefícios e paybacks típicos

– LED + controle: 1–3 anos (com ganho de conforto visual).

– Cobertura com SRI elevado e isolamento adicional: 1–4 anos (menor carga térmica).

– Sanitários eficientes e reuso simples: 1–3 anos.

– Otimização de traço de concreto e logística: impacto imediato no CAPEX e −10 a −20% CO2e da estrutura.

– Desvio de resíduos ≥ 80%: 10–30% menos custo com caçambas e transporte.

12) Checklists práticos

Checklist de projeto (resumo)

– Metas numéricas definidas e registradas

– Estudo bioclimático e simulações (térmica/iluminação)

– Alternativas estruturais comparadas por CO2e e custo

– Especificações: EPD, VOC baixo, origem e transporte

– Detalhes de estanqueidade e pontes térmicas

– Plano de medição (submedidores) e comissionamento

Checklist de obra (resumo)

– PGRCC com segregação real e registros

– Água e energia com submedição setorizada

– Controle de umidade e armazenamento de materiais

– Treinamento de equipe e auditorias de campo

– Mockups e aprovações para evitar retrabalho

– Entrega de manual do usuário e O&M

13) Aplicação direta às suas áreas

Engenharia Estrutural

– Decisão de sistema (concreto, aço, madeira) com ACV e custo.

– Otimização de seções e detalhamento para reduzir volume e perdas.

– Especificação de cimentos com menor fator clínquer; traços com adições.

– Planejamento de formas e fôrmas reutilizáveis; logística de bomba de concreto para minimizar desperdícios.

Engenharia Diagnóstica

– Protocolos de inspeção para estanqueidade, patologias por umidade e desempenho térmico (mofo/pontes térmicas).

– Retrofits de baixo impacto: isolamento interno seletivo, selagem de ar, troca de luminárias e automação simples.

– Pós‑obra: M&V e ajuste fino para assegurar que metas se mantenham no uso.

Conclusão

Sustentabilidade coerente é método: metas claras, decisões no projeto, práticas de canteiro e medição contínua. Comece com 5 metas simples, instale submedidores, segregue resíduos de verdade e escolha soluções estruturais e de envoltória com menor CO2e sem perder desempenho. Em 90 dias dá para mostrar números que reduzem custo, diminuem riscos de patologia e atraem clientes.

Se quiser, eu preparo:

– Um PGRCC de 1 página e um checklist de obra.

– Um template de especificação com critérios ambientais (EPD, VOC, logística).

– Uma planilha de ACV preliminar e de M&V (energia e água).

– Um memorial descritivo padrão integrando metas e medições.

Você pode me enviar plantas em PDF e, se tiver, uma planilha de quantitativos para eu devolver um pacote pronto com metas, estimativas de economia e plano de implantação em 90 dias.

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