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Meu prédio está com trincas entenda os riscos, como diagnosticar e qual é o caminho certo

1) O que é trinca e como reconhecer

  • Por abertura típica
    • Microfissuras: muito finas, quase invisíveis a olho nu (ex.: retração de pintura ou argamassa).
    • Fissuras: finas e contínuas, geralmente < 0,5 mm.
    • Trincas: abertura maior, perceptível ao tato, ~0,5 a 1,5 mm.
    • Rachaduras: aberturas significativas, > 1,5 mm, podem indicar risco importante. Observação: a classificação por milímetros varia por referência técnica; use régua de fissura para medir.
  • Por origem
    • Revestimento: ocorre só na pintura/argamassa.
    • Substrato: alcança a alvenaria, concreto ou elemento estrutural.
  • Por comportamento
    • Ativas: variam de largura com o tempo/temperatura/umidade; tendem a “abrir-fechar”.
    • Passivas: estáveis; não têm evolução perceptível.

2) Sinais de alerta: quando é urgente

Procure avaliação técnica presencial com prioridade se observar:

– Trincas em elementos estruturais (pilares, vigas, lajes) ou trincas que “cortam” a parede de forma inclinada, especialmente próximas a vãos.

  • Evolução rápida (dias/semanas), formação de degraus ou desalinhamentos entre faces.
  • Portas e janelas que emperram “de repente”, pisos com barriga, telhas/lajes que flecham anormalmente.
  • Estalos, vibrações incomuns, sensação de movimento, fissuras acompanhadas de vazamentos de gás/água.
  • Concreto com ferragem exposta, cobrimento destacando, manchas de ferrugem, eflorescência intensa.
  • Recalques visíveis (fissuras em “V” invertido ou aberturas concentradas na base de paredes).

Medidas imediatas (provisórias) até a vistoria:

– Isolar a área e evitar sobrecargas (retirar objetos pesados).

  • Não “tampar” a trinca com massa; não perca evidências.
  • Não quebrar nem picotar até que um engenheiro avalie.
  • Em casos graves, escoramento provisório deve ser dimensionado por profissional.

3) Causas prováveis por elemento

  • Paredes de alvenaria de vedação
    • Retração da argamassa, movimentação térmica, ausência de juntas, apoios indevidos em vigas ou lajes com grandes flechas, recalques diferenciais, aberturas mal detalhadas em vãos.
  • Lajes, vigas e pilares (concreto)
    • Retração plástica ou por secagem, variações térmicas, detalhamento/execução de armaduras, cargas não previstas, corrosão de armaduras (carbonatação/cloretos), vibrações.
  • Fachadas e revestimentos (argamassa, cerâmica)
    • Falhas de aderência, ausência de juntas de movimentação, diferença de módulos elásticos entre camadas, umidade e dilatação térmica.
  • Pisos
    • Base fraca ou heterogênea, retração, ausência de juntas, sobrecargas, recalque do subleito.
  • Fundações
    • Recalque diferencial, variação de lençol freático, solo expansivo, drenagem inadequada, intervenções vizinhas.

4) Passo a passo de diagnóstico técnico

  1. Anamnese (histórico)
  • Quando surgiram? Aumentaram? Houve obras recentes, vazamentos, vizinho reformando, trepidação?
  • Mudanças de uso/carga (móveis pesados, arquivos, boxes, equipamentos)?
  • Mapeamento
  • Fotografe com escala (régua/moeda), registre ambiente, orientação da parede, posição em planta.
  • Desenhe as trincas em croquis ou plantas; numere e descreva.
  • Medição e monitoramento
  • Abertura com régua de fissura; uso de testemunhos (gesso/resina) para perceber evolução.
  • Em casos relevantes: pinos ou marcadores, medição periódica, sensores simples; para fachadas, inspeção por acesso por corda ou drone.
  • Nível/alinhamento: régua de alumínio, nível a laser para verificar prumos e flechas.
  • Inspeção complementar e ensaios, quando necessário
  • Picote localizado para ver se a trinca vai além do revestimento.
  • Carbonatação (fenolftaleína), extração de pó para cloretos, esclerometria, pacometria para armaduras, termografia para umidade/destacamento, ferroscan, ultrassom em concreto, levantamento planialtimétrico para recalques.
  • Conclusão e classificação de risco
  • Classifique: estético, funcional (desempenho/estanqueidade), estrutural.
  • Defina plano: monitorar, intervir corretivamente, intervir emergencialmente.

5) Como reparar: soluções certas para cada causa

Importante: corrigir a causa antes ou junto do reparo. Exemplos práticos:

  • Trincas de retração em revestimentos (estéticas)
    • Tratamento de superfície: escarificar, pontes de aderência, argamassa adequada, tela de reforço em regiões críticas, repintura com sistema flexível.
  • Movimentação higrotérmica
    • Criar e selar adequadamente juntas de movimentação (PU, MS polymer, silicones neutros segundo exposição); usar selantes elásticos, não rígidos.
  • Umidade e infiltração
    • Estancar origem (hidráulica, cobertura, fachada), impermeabilizar corretamente (detalhes de rodapé, ralos, rufos); só depois recompor revestimentos.
  • Trincas passantes ou que cruzam elementos
    • Costura com grampos (barras) e resina epóxi em alvenaria ou concreto, respeitando detalhamento e cobrimento.
    • Injeção de resinas (epóxi para rigidez estrutural; poliuretano para vedação) conforme objetivo.
  • Corrosão de armaduras
    • Remover concreto deteriorado, tratar/passivar aço, recompor com argamassa polimérica de reparo ou microconcreto; eventual reforço (aumento de seção, chapas, CFRP).
  • Recalques diferenciais
    • Intervenção em fundação (micropilhas, maciços, consolidação), nivelamento controlado; só depois recomposição de paredes e revestimentos.
  • Elementos sobrecarregados ou mal detalhados
    • Reforço local (laminados de fibra de carbono, perfis metálicos, aumento de seção com concreto), após verificação estrutural.

6) Como evitar que voltem

  • Projeto e detalhamento
    • Respeitar juntas de dilatação/controle; compatibilização entre arquitetura, estrutura, instalações; prever cargas reais de uso.
  • Execução
    • Controle de cura do concreto/mortero, adensamento adequado, sequência construtiva, amarrações de alvenaria, proteções contra insolação/vento.
  • Materiais e sistema
    • Revestimentos compatíveis, argamassas com aditivos antirretração quando aplicável, selantes adequados à exposição.
  • Manutenção predial
    • Inspeções periódicas (anuais a trianuais conforme uso/idade), limpeza de calhas e rufos, controle de umidade, correção de pequenas fissuras antes que evoluam.

7) Custos, prazos e planejamento de reparo

  • Inspeção técnica e laudo
    • Varia com escopo e cidade. Em condomínios, uma inspeção com mapeamento pode ir de acessível a moderado; laudos com ensaios encarecem, mas evitam retrabalho. Peça sempre escopo claro.
  • Reparos
    • Estéticos/localizados: geralmente rápidos e de baixo a médio custo por metro.
    • Estruturais/fundações: custos mais altos e prazos maiores; exigem planejamento, escoramentos, eventual interdição parcial.
  • Planejamento
    • Cronograma por etapas, contenção de entulho, ruído em horários permitidos, comunicação com moradores, proteção de mobiliário e fachadas.

8) Perguntas frequentes

  • Posso simplesmente “fechar” a trinca e pintar?
    • Só se for trinca de revestimento, passiva e sem causa ativa por trás. Em dúvida, avalie.
  • Testemunho de gesso resolve?
    • Ajuda a indicar evolução, mas não substitui medição com régua de fissura e acompanhamento técnico.
  • Trincas finas em paredes recém-pintadas são normais?
    • Microfissuras por retração são comuns; se forem aleatórias e superficiais, tratam-se com sistema de pintura flexível. Se forem contínuas e “desenham” o bloco ou vão, investigue.
  • Preciso de RRT/ART?
    • Sim, para inspeções com laudo e para qualquer intervenção relevante. Isso protege o condomínio e o profissional.

9) Checklist rápido para o síndico ou morador

Exigir memorial de reparo e ART/RRT.-

Fotografar cada trinca com referência de escala, data e local.

Medir abertura com régua de fissura e repetir medição semanal por 4–8 semanas, quando seguro.

Identificar se atinge elemento estrutural ou só revestimento.

Verificar sinais associados: umidade, ferrugem, portas emperrando, sons, deslocamentos.

Evitar intervenções cosméticas até avaliação.

Solicitar vistoria de engenheiro habilitado e, se necessário, ensaios complementares.

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